quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dia desgastante.


 Lá estava o homem esperando pelo ônibus. Não sei seu nome, quem saberá? Vestido em seu terno, chapéu-coco na cabeça, pasta de couro na mão, parecia ter surgido de outra época. Esperava, quase que imóvel, observando o fundo da rua. Às vezes mudava o peso do corpo sobre uma perna para a outra. Impacientava-se discretamente a cada minuto que passava.
 De repente, uma mudança em sua expressão, como se visse um raio descendo o céu. Mas não, era apenas o ônibus. Demorei a entender o porquê de seu comportamento, hoje entendo a surpresa e o espanto que ele demonstrou. Percebi, naquele instante, as várias outras pessoas. Calças jeans, uniformes, bolsas e tênis coloridos. Tirem suas próprias conclusões sobre isso. O que me chamou a atenção não foram os diferentes cortes de cabelos ou marcas chamativas nas estampas de suas roupas. Foi que quase todos deram sinal ao ônibus, o homem não.
 Subiu as escadas do automóvel, ele tinha classe, ninguém ao seu redor parecia estar à sua altura. Pagou a condução com a quantia exata e foi passando para a parte de trás, sem esperar que existissem assentos desocupados. Segurava a barra de ferro alta com uma das mãos, com a outra, mantia sua pasta à frente do corpo, não iria incomodar qualquer outro pasageiro. Pernas abertas para se equilibrar aos solavancos e paradas bruscas que o motorista submetia-lhe.
 Onde estava o estilo? Lembro-me de quando os objetos eram mais individuais e as pessoas, mais coletivas. Muito se ganhou com o desenvolvimento da tecnologia, muito se perdeu. O importante, porém, é que as coisas modificaram-se. Cabe a cada um decidir o que foi bom e ruim.
 O homem permaneceu quase estático durante todo o percurso. Até que deu o sinal para descer do ônibus. Não mais eu o vi depois desse dia. Nem posso saber o que lhe aconteceu. Mas após eu o ter visto, passei a desgostar do mundo atual.

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